O Terapeuta e o Encosto Corporativo
- Instituto Lumni TERAPIAS ESPIRITUALISTAS
- há 5 dias
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Estou acostumada a receber pedidos de pessoas que sentem que suas vidas estão travadas — emoções desagradáveis surgem sem explicação, medos injustificados aparecem do nada, ou a sensação de que nada mais anda. Mas jamais imaginei que um dia receberia um pedido de um departamento inteiro, sentindo em uníssono essas mesmas coisas!
Tudo começou com um e-mail lacônico de uma empresa de médio porte: "Prezada terapeuta energética, precisamos de uma limpeza urgente no setor financeiro. Algo está nos sugando."
A princípio, achei que fosse mais um caso de burnout coletivo. Mas a forma como a palavra “sugando” estava grifada em vermelho me intrigou.
Cheguei à sede da empresa numa sexta-feira nublada, armada com minha turmalina negra no bolso e um frasquinho de floral “anticrise existencial”. O clima estava... estranho. Será que só eu reparei que o elevador emperrou em vários andares antes de chegar ao destino? E que o ar-condicionado fazia barulhos que lembravam suspiros? Havia no ar um cheiro indefinível, algo entre incenso vencido e café requentado.
Fui recebida pela gerente de RH — uma mulher magra, tensa, que falava em sussurros e piscava demais. — É o setor financeiro... está possuído, Carmem. Desde que o novo diretor morreu — ela hesitou — quer dizer, desde que o novo diretor entrou, tudo ficou esquisito.
Pedi para ficar sozinha na sala. Como sempre faço, procurei o ponto central do ambiente, sentei-me em posição de lótus e iniciei em silêncio meu mantra de conexão com as energias astrais. Fechei os olhos, respirei fundo… e logo percebi: o campo energético estava denso, viscoso.
Sempre que entro nesse estado, é como se eu enxergasse o lugar com os olhos fechados — vejo outra dimensão da mesma sala. Imagino-me caminhando, e então as formas invisíveis se revelam. Ali, comecei a notar movimentos inesperados: papéis tremulavam sozinhos sobre a mesa. O relógio da parede andava para trás. Um ponto escuro, sem luz, surgiu no canto.
Sussurrei: — Quem está aí?
Uma voz grave, cansada, respondeu dentro da minha mente: — Sou eu. O diretor anterior. Eu não aceitei o desligamento.
A ficha caiu. O problema da empresa não era exatamente financeiro... Era espiritual. Um típico caso de encosto corporativo.
Conduzi uma pequena apometria de emergência entre planilhas do Excel e um relatório de auditoria.Expliquei ao espírito que seu tempo na empresa havia terminado, que ele precisava seguir para o RH Celestial — onde, quem sabe, já houvesse um cargo vago.
Ele resistiu, claro. Disse que ninguém além dele sabia o número exato dos desvios da contabilidade. Achei bonito da parte dele.
Mas, após uma breve negociação — e a promessa de uma menção honrosa no mural de funcionários eternos — ele aceitou ir. Desapareceu no mesmo instante em que a impressora, sozinha, emitiu um boletim com o título: “Reequilíbrio Fiscal.”
Abri os olhos, contente. E, como se adivinhasse, a gerente entrou na sala, aliviada, me oferecendo um voucher de vale-massagem. — O que era, Carmem?
Sorri. — Apenas um apego profissional. Dos fortes.
Desde então, toda vez que alguém fala em espírito de equipe, eu pergunto: — De qual plano?
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